Documentários
Sobre o projeto
Quase noventa anos depois da afirmação de Lucio Costa, a antiga
arquitetura de influência portuguesa pelo mundo tem sido intensamente
estudada e documentada.Mattoso, Património de origem portuguesa no
mundo.
No entanto, o resultado dessa documentação no que
respeita à difusão do conhecimento técnico sobre a arquitetura civil
luso-brasileira permanece bastante desigual. Por isso, este projeto visa
a compilar o conhecimento técnico existente acerca da arquitetura civil
no Brasil e em Portugal. Ele oferece um catálogo enciclopédico de
desenhos e fontes, organizado não apenas para uma consulta conveniente
online, mas sobretudo para a possibilidade de reutilização dos
metadados de todas as fichas em outras investigações futuras.
A busca por um caráter nacional português ensejou, desde meados de
oitocentos, campanhas de documentação de igrejas tardomedievais,
inauguradas pelo brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagen«Mosteiro de Belém».
, e românicas, como na obra de Augusto SimõesReliquias da architectura
romano-byzantina.
. O estudo da arquitetura civil, com raras exceções
como o trabalho do engenheiro alemão Guilherme de Eschwege no palácio da
Pena em Sintra desde a década de 1830,Anacleto, Arquitectura neomedieval
portuguesa.
seria muito mais tardio. A importância de se
documentar e classificar a diversidade das casas tradicionais
portuguesas seria ressaltada já na última década do século XIX pelo pintor espanhol
Enrique Casanova«Casa portugueza», janeiro de
1895; «Casa portugueza», junho de
1895.
e por Henrique das Neves.«Casa portugueza I»; «Casa portugueza
II».
No entanto, o estudo da arquitetura civil
tradicional ainda haveria de permanecer muitos anos dominado por
abordagens etnográficas e nacionalistas como a do engenheiro e
arqueólogo português Ricardo SeveroOrigens da nacionalidade
portugueza.
, ou pelo utilitarismo projetual de Raul LinoA nossa casa.
.
O Documentário arquitetônico encomendado a José Wasth RodriguesDocumentário arquitetônico relativo á antiga
construção civil no Brasil.
por Ricardo Severo, então radicado em São Paulo,
foi parcialmente publicado na revista Acrópole a partir de
1938. O gênero documental adotado por Wasth Rodrigues era o mesmo que o
próprio Lucio CostaDesenhos da juventude.
adotara mais de uma década antes, nos seus estudos
em Diamantina, mas que ficaram inéditos até o início deste século.
Tratava-se, em ambos os casos, de trabalhos conhecidos nas escolas de
Belas Artes do século XIX como estudos
arqueológicos: isto é, levantamentos precisos de detalhes isolados,
complementados com vistas de conjunto, servindo como base para
reconstituições em estilo.
Uma documentação técnica
mais sistemática ganhou ímpeto com as grandes campanhas de restauro
empreendidas pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
no Brasil das décadas de 1940 e 50,Mayumi, Taipa, canela-preta e
concreto.
e ao mesmo tempo com o projeto do Inquérito à
arquitetura regional portuguesa, dirigido por Francisco Keil do
Amaral.Arquitectura popular em
Portugal.
A partir daí, as investigações passaram a fazer
uma negação mais ou menos explícita da ideia de uma unidade de estilo em
escala nacional, para apontar, ao contrário, a singularidade de cada
exemplar ou, quando muito, a sua vinculação a tradições regionais mais
delimitadas.
Todavia, tais documentos sistemáticos foram apenas em raros casos
compilados e publicados em produtos facilmente acessíveis. Destacam-se,
por exemplo, os próprios inquéritos portugueses acerca do
continenteArquitectura popular em
Portugal.
e das ilhas.Caldas, Arquitectura popular dos
Açores; Mestre, Arquitectura popular da
Madeira.
No Brasil, alguns inventários do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) foram publicados com
farta documentação técnica, como aquele das fazendas mineiras por Cícero
CruzFazendas do sul de Minas Gerais.
, ou ainda o da arquitetura da imigração japonesa
coordenado por Maria Regina WeissheimerImigração japonesa no Vale do Ribeira em São
Paulo.
. Um dos mais importantes trabalhos recentes nesse
sentido foi o dossiê de tombamento de São Luiz do Paraitinga, coordenado
por Jaelson TrindadeSão Luiz do Paraitinga.
, que resgatou levantamentos arquitetônicos mais
antigos e até então de difícil acesso.
Este projeto estende
o espírito de tais trabalhos, reunindo numa base de dados unificada um grande número de edificações anteriormente publicadas em obras distintas. Além disso, oferece uma representação gráfica simples e padronizada para os desenhos técnicos, facilitando a comparação entre diferentes edificações. Essa documentação permite também a realização de análises com um grande volume de obras consideradas simultaneamente. Tal não era, até o momento, possível devido à dispersão das fontes — mesmo aquelas já publicadas — e ao consequente retrabalho exigido por toda coleta de dados.
A nossa arquitetura foi bastante estudada desde o século passado, mas tais estudos ainda não foram convenientemente apresentados e sistematizados. Esta base de dados constitui um primeiro passo de compilação e sistematização visando à conveniência de investigações futuras.